Novo Projeto Av. Roberto Freire: Análise Preliminar

O Secretário de Infraestrutura do RN Jader Torres apresentou nessa quinta (27/8) a representantes e convidados do Conselho de Transporte e Mobilidade Urbana de Natal, reunidos no Salão Nobre do Palácio da Cultura, o novo projeto conceitual da Reestruturação da Av. Roberto Freire de Natal, a mais bela e tratada via do corredor turístico de Natal e RN. Segundo o site oficial do governo, esse mesmo projeto já fora apresentado no dia 8 de Agosto a representantes da Fecomércio e da Câmara de Diretores Logistas-CDL de Natal, sem termos notícia de qualquer crítica relevante, o que não aconteceu na nova apresentação que cito e analiso a seguir.

Segundo Pedrinho (dos Alternativos) e outros conselheiros titulares presentes, a plenária estava com baixo quórum, o que significava que o tema não despertara grande interesse em boa parte dos membros. Os demais presentes eram pessoas que aceitaram o convite aberto e divulgado em redes sociais. Assim, podemos dizer sem errar que, a maioria das pessoas presentes nessa apresentação eram ativistas ou simpatizantes do ciclismo e do transporte de massa, o que deu o tom das reações dos presentes na fase de comentários.

Pelos comentários no debate, posso dizer que a maioria entendeu que o novo projeto está menos ambientalmente impactante comparando-se com o projeto anterior desenvolvido no Governo Rosalba, mas está longe do ideal ou mesmo do aceitável. Ele continua a agredir significativamente à natureza e, principalmente, ao belo paisagismo existente na avenida e continua a priorizar a maior fluidez dos automóveis privados e não a segurança, conforto e fluidez dos pedestres e do transporte público de  massa. Esse posicionamento vai na contramão do bom censo, na modernidade e da legislação federal atual, como a Lei Federal 12.587/2012 que orienta a Política Nacional da Mobilidade Urbana.

ALGUMAS FALAS CRÍTICAS

Quem estava presente a citada reunião de apresentação era o estudioso em mobilidade urbana Prof. Rubens Ramos da UFRN. Na sua fala praticamente repetiu o que tem dito em algumas audiências públicas: Os projetos de mobilidade apresentados nos últimos anos pelos governantes de Natal e do RN partem de princípios já há décadas ultrapassados em países e cidades urbanisticamente modernas no mundo. Assim, geram projetos de mobilidade típicos dos anos 70 como se fossem de vanguarda, como a tentativa de criar as onerosas e nem sempre belas vias expressas com muitos viadutos, elevados e tunes, para favorecer a ampliação da velocidade, principalmente, dos transportes privados e, quase sempre, individuais, e que excluem ou minimizam as vias para ciclistas e pedestres. Ainda segundo Rubens, se Natal aceitar esses equivocados projetos terá que pagar o caro preço de substituí-los em pouco tempo, caso quera alinhar-se ao bom senso e as cidades modernas voltadas prioritariamente para pessoas e não mais para transitar e acolher/estacionar os carros privados de uma parcela quase sempre minoritária de sua população.

Falas parecidas também foram colocadas por Fabrício Lira (Arqt. e Prof. UNIFACEX) Carlos Milhor (ACIRN), Canutto (ACIRN), Nilson Queroga (SETURN) e este que vos escreve (ACIRN/Bicicletada/CONPLAM). Carlos e Fabrício, como arquitetos e urbanistas, chamaram atenção para o equívoco em propor-se a supressão de praticamente todo belo canteiro central da avenida e parte do Parque pelo novo projeto, ainda em favor dos carros. Carlos ainda destaca que ciclistas terão dificuldades para adentrar no bairro Capim Macio, devido a ciclovia está disposta apenas no lado do Parque das Dunas. Canutto e Nilson chamaram atenção para a falta de acessos partindo da BR 101 e de tratamento adequado para o transporte público de massa. Nilson ainda provocou o representante do DNIT presente quando destacou que muitos retornos nas Br's são verdadeiras "gambiarras".

O engenheiro representante do DNIT, que se diz também ciclista, pediu direito de fala. Disse que a retirada da ciclovia do projeto de readequação de trecho da BR 101 S, entre Natal e Parnamirim, foi por limitação técnica apontada por estudo realizado pela empresa que ganhou a licitação. Disse também que os retornos nas BRs não são "gambiarras". Se não atendem bem todos e por causa de limitações técnicas. E deu o troco: "Gambiarras" podem ser os ônibus velhos que prestam serviço em Natal. A secretária Elequicina, que presidia a reunião do Conselho de Mobilidade, pediu calma a todos e seguiu a reunião.

Os ciclistas presentes contestaram a fala do engenheiro do DNIT dizendo que apenas uma opinião de uma empresa contratada não pode ser o único determinante. Em off, descobrir que o contrato com a empresa é por RDC- Regime Diferenciado de Contratações. Assim, a empresa tem amplo interesse de diminuir seus custos para ampliar seu lucro no projeto. O Prof. Rubens colocou-se a disposição para estabelecer parceria/colaboração técnica entre DNIT e UFRN visando possibilitar uma segunda opinião.

Na minha fala, reforcei alguns pontos já falados e destaquei a necessidade de prever-se corredores exclusivos para transportes de massa, a exemplo do VLT ou BRT, e ainda a necessidade de firmar-se parceria técnica entre os entes governamentais municipais, estadual e federal, inclusive, no que tange aos corredores estruturais de mobilidade. Enfatizei que muitos projetos necessitam utilizar vias ou áreas de outros entes, para o bem da cidade, da região metropolitana e do estado. Assim, o projeto da av. Roberto Freire não deve ser um projeto isolado e impeditivo a boa fluidez e convivência social e conectividade com projetos afins.

IMPACTOS EM DESTAQUE

Do ponto de vista ambiental, o projeto desenvolvido no governo Rosalba adentrava 30 a 40 metros e se alongava por mais de 2 100 m lineares na área da Unidade de Conservação Estadual Parque das Dunas, um patrimônio da humanidade reconhecido pela UNESCO, com o propósito de ampliar o número de faixas de rolamento para automóveis. Isso foi o bastante para provocar a forte rejeição por parte de ambientalistas e simpatizantes. O novo projeto parece ser menos impactante e muito mais "sabido". Usará "apenas" 4 metros x 2100 metros lineares do Parque das Dunas (8 mil e 400 metros quadrados), para instalar uma ciclovia de mão dupla, com 4 m de largura. Moral da história e da "sabedoria sacana": Se os curupiras ciclistas e simpatizantes quiserem manter a ciclovia no novo projeto devem abrir mão (não salvar) a fração a ser atingida no Parque das Dunas. Espertos não? Vamos pensar curupiras uma saída estratégica pra mantermos o parque intacto e a ciclovia ideal. Suprimir praticamente todo canteiro central e parte do Parque das Dunas não parece-me uma solução justa, principalmente, se o único objetivo é aumentar o espaço e a fluidez para carros. Vou pensar algumas soluções e disponibilizarei numa postagem a seguir. Por enquanto, disponibilizo as imagens do projeto atual que copiei.

Perfil padrão do novo projeto da Av Roberto Freire















Comentários

  1. Obrigada Miltão! Ótimo relato, infelizmente não pude ir pois estava doente, mas sempre fale das novas reuniões, porque temos que estar vendo essas coisas de perto!!

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    1. Quando valer a pena a divulgação, por ser relevante de alguma forma pra o coletivo afim não presente, darei minha contribuição. Abraço.

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